Identidade femenina na poesia de mulheres indígenas no Brasil: Natureza, Feminismo e Memória

Enfoque

Após um longo período de esquecimento na sociedade contemporânea, um grupo de mulheres indígenas brasileiras começou, desde princípios do século XXI, a utilizar a escrita poética como meio de reivindicação dos seus direitos como mulheres e como descendentes dos povos originários do país, na procura do reconhecimento de uma identidade própria.

O objetivo desta pesquisa é identificar as ideias centrais com base nas quais as poetas indígenas, por meio da criação literária em português, reconstroem sua própria identidade como mulheres e como indígenas na sociedade brasileira contemporânea, rompendo com o princípio da miscigenação, que tem constituído o discurso político oficial do país desde sua independência.

A metodologia utilizada foi a qualitativa. Para tanto, partimos de uma amostra representativa da criação poética escrita em português por autoras indígenas. Com base nessa amostra, procedemos à seleção e análise dos poemas que mais claramente refletem os sentimentos das autoras sobre a realidade social da mulher indígena no Brasil contemporâneo, bem como seu reflexo na reivindicação de sua identidade como mulher e indígena. Para essa análise, incluímos trechos de poemas que ilustram as questões com as quais estamos lidando. Também utilizamos nesta pesquisa várias fontes secundárias destinadas a contextualizar, do ponto de vista social, cultural e literário, os aspectos da identidade expressos nesses poemas.

Nesta pesquisa, partimos da hipótese de que o uso da língua oficial do Brasil, o português, pelas poetisas indígenas é um meio de diálogo com o restante da sociedade brasileira, no qual a expressão da identidade ocupa um lugar central.

No que diz respeito aos resultados e à discussão, esta pesquisa nos permitiu verificar que, na poesia de autoras indígenas, a expressão de sua identidade como mulheres descendentes dos povos originários do país se baseia em quatro eixos básicos. O primeiro deles é o da identidade coletiva, em face da fragmentação e do isolamento a que esses povos foram submetidos durante séculos de colonização. O segundo é a vinculação da identidade da mulher com os ciclos da natureza, por meio de seu poder de procriação e regeneração, diante das ameaças da sociedade contemporânea. A terceira é a reinterpretação dos postulados feministas de acordo com a realidade social de seus povos. Por fim, essa identidade se baseia no papel da mulher indígena como depositária e transmissora do conhecimento ancestral desses povos.

Concluindo, a pesquisa que realizamos, de acordo com os objetivos propostos e as hipóteses levantadas, permitiu-nos verificar que, para as mulheres poetas indígenas, a expressão da identidade transcende a esfera individual e a lógica da exclusão, para formar uma reivindicação de respeito e inclusão na sociedade brasileira moderna, como descendentes e portadoras dos valores e ensinamentos dos povos originais do Brasil.